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Carros importados mais baratos? O que pode acontecer após o acordo UE-Mercosul

Carros importados mais baratos? O que pode acontecer após o acordo UE-Mercosul

O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, previsto para ser assinado neste sábado, 20, agora deverá ser sacramentado apenas em janeiro de 2026. Anunciado no final de 2024, o pacto teve negociações ao longo de 25 anos. A parceria tem como objetivo eliminar a maioria das tarifas entre as duas regiões.

Para o setor de veículos, o acordo pode mexer profundamente com a indústria automotiva nacional. De acordo com os especialistas consultados por QUATRO RODAS, com a futura assinatura, poderá haver uma redução de tarifas de importação e exportação de veículos e autopeças, o que deverá baratear custos e tornar os nossos produtos mais competitivos. Mas há também contrapontos.

“Entendo que novos produtos com preços competitivos provenientes da Europa e acesso facilitado a novas tecnologias serão motores à produção e o desenvolvimento locais. A nossa tecnologia de veículos híbridos flex poderá ganhar escala, o que é benéfico para a nossa indústria e, por conseguinte, para o nosso país”, afirma Milad Kalume Neto, consultor e diretor-executivo da K.LUME Consultoria Automobilística.

“Entretanto não observo mais espaço para a produção de veículos de luxo por aqui. Com a proximidade dos preços entre os mercados, a lógica seria manter a produção na Europa, que tem maior escala e maior mercado para este tipo de produto; ficaríamos apenas com importações”, completa.

Divulgação/Audi

O consultor cita outros três pontos de atenção:

• As fabricantes do Mercosul enfrentariam dificuldades para competir com europeias em relação a maior capacidade tecnológica e economia de escala; este seria, de fato, um ponto de atenção.

• Outro ponto de atenção diz respeito a capacidade competitiva e de produção das autopeças que, com preços mais competitivos no exterior, poderiam abandonar a produção local. Nesse contexto ficaríamos mais dependentes de inovação externa, dificultando o desenvolvimento de soluções regionalizadas.

• Uma adequação ao que cada continente pode produzir de forma mais eficiente é esperado e seria adequado. Parte destes processos justifique os investimentos que as fabricantes chinesas estão realizando no Brasil pois desta forma teriam entrada facilitada no Velho Continente produzindo veículos por aqui.

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Exportação

Na visão de Neto, o Brasil poderá exportar mais produtos para a Europa, principalmente no que sabe produzir muito bem: veículos pequenos como hatchs, sedãs, picapes e SUVs.

Outro ponto positivo do país será o etanol. “A Europa precisa de inovações tecnológicas de redução de carbono. Veículos elétricos puros se tornaram um estorvo e os híbridos se mostram como solução em diversos mercados. A opção pelo etanol seria parte deste processo de descarbonização europeia mas seriam necessários investimentos na geração ou importação deste combustível que não tem produção ou tem produção muito restrita naquele continente.”

Divulgação/Volkswagen

Acordo e o tempo

Entretanto, a assinatura demandará tempo. “Passará por: revisão legal, tradução para 25 línguas entre os países que fazem parte do bloco, assinatura, internalização das normas discutidas (que no Brasil envolve Executivo e Legislativo) e, finalmente, a ratificação”, explica o consultor.

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Na última proposta divulgada pelo governo brasileiro, em dezembro de 2024, os veículos com motores a combustão deixariam de pagar impostos de importação no prazo de 15 anos. O texto prevê isenção em 18 anos para veículos eletrificados, 25 anos para os movidos a hidrogênio e 30 anos para os que são produzidos “com novas tecnologias”, indisponíveis no mercado atualmente.

“O acordo prevê a redução gradual dos impostos de importação em um prazo de 15 anos. Isso não significa que o efeito seja imediato, pois a cadência de reduções ainda será confirmada”, afirma Cassio Pagliarini, diretor de marketing e sócio da Bright Consulting.

Atualmente, o Brasil paga 35% de imposto de importação para veículos advindos do bloco europeu. Mesmo com a alíquota zero, estão previstas medidas de proteção ao nosso mercado, caso ocorra, por exemplo, uma “evasão” das montadoras por aqui.

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O Brasil poderá ainda suspender por três anos o cronograma de alíquota zero para a indústria automotiva (ou mesmo retomar a alíquota de 35%) sem necessidade de oferecer qualquer compensação à União Europeia.

“Para isso, basta que sejam observados riscos à indústria local (e vice-versa) e esta suspensão poderá ser renovada pelas partes por dois anos sendo uma segurança para as operações industriais entre as partes”, diz Neto.

Fábrica do Corolla CrossDivulgação/Toyota

Montadoras e associações

QUATRO RODAS consultou algumas montadoras e associações sobre o tema.

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A BMW afirma que apoia o livre comércio. “O livre comércio sempre foi um princípio orientador para o BMW Group: é o principal motor de crescimento e progresso. As tarifas, por outro lado, dificultam o livre comércio, retardam a inovação e iniciam um ciclo vicioso. No fim, elas encarecem os produtos e os tornam menos inovadores”.

Stellantis e Volkswagen não quiseram participar.

A Abeifa (Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores) não respondeu até a publicação.

A Anfavea diz que acompanha o tema e que não vai comentar antes do acordo ser “sacramentado”.

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